FREGUESIA DE QUINCHÃES


Uma terra com história ...

São factos verídicos, factos estes que transcrevem sentimentos de amor, crueldade e muito sacrifício!

Frei Diogo era padre da Freguesia de S. Gens. Tinha como grande amigo José de Melo dos Santos Leal de Barros, este era filho do Capitão de Real.

José de Melo, tinha um grande amor por Paula Gonçalves, esta por sua vez correspondia-lhe loucamente. Frei Diogo fazia um grande gosto em casá-los, mas havia duas razões que dificultavam esta união: a primeira é que o Capitão de Real segunda consta, foi o assassino do pai de Paula, daí o seu descontentamento com este amor e a segunda era mais forte, José de Melo tinha que partir para a Guerra, para as terras de África.

Foi num jantar em casa de D. Joana, mãe da Paula, que Frei Diogo revelou a partida do amado da moça. Foi com bastante dor que Paula ouviu estas palavras, não aceitava que o seu único amor partisse para a guerra. Mas José de Melo era um homem de coragem e não era cobarde. Despediu-se na véspera da sua partida para Aslim, com um beijo, foi o primeiro beijo! Paula sonhava que o via morto, na batalha!

O infeliz dia chegou, depois de dar a comunhão a José de Melo, Frei Diogo acompanhou-o, ouvindo as saudades que o amigo transmitia já pela sua amada! Ao chegar ao cimo do monte da Veiga, José de Melo fez a promessa ao amigo que se chegasse são e salvo da batalha contra os infiéis, levantaria com as suas próprias mão uma ermida à Nª. Srª. Do Socorro. Frei Diogo disse que o seu voto seria cumprido!

E lá se foi José ter com os restantes soldados à Sede de Monte Longo em Fafe.

Partiu então com os restantes companheiros em direcção a África.

Paula ficou com o coração despedaçado, aquele sorriso meigo e angélico que lhe iluminava o rosto lindo, dissipou-se! Passava dia e noite a chorar!

Na batalha, o exército de Islam era bem maior que o de Portugal, mas como o bom Português é corajoso foi avançando contra os adversários. E começou a horrível batalha! Lançada por lançada, peito a peito, numa onda de ódio, sem que os nossos entendessem a razão e o porquê. O Rei perdia-se e o exército com ele e, com todos a nossa nacionalidade…

José de Melo ficou moribundo, pensando que ia morrer, murmurou muito brandamente: “minha Paula”.

Mais tarde passou um beduíno, com pena do guerreiro e também com interesse, pois tinha um escravo e colocou-o como fardo em cima de um cavalo. Vendeu-o em seguida a Zalira, uma moura linda!

Zalira cuidou de José, apaixonando-se pelo português. Era dona de muitas terras, muito gado, era rica! Perguntando-lhe o nome de José, este identificou-se como Aguinaldo de Alvor! Dizendo-lhe que era cristão e que acreditava no seu Deus.

José de Melo, ou Aguinaldo começou a apaixonar-se pela moura. Casou-se com ela, renunciando do seu Deus.

E Paula? Casou com José de Barros da Cunha Queirós, era um bêbado, não teve sorte a rapariga dos cabelos loiros, batia-lhe, era infeliz coitada!

Aguinaldo de Alvor, passava muitos dias fora de casa, Zalira era como já disse uma mulher muito bonita e andava na redondeza um homem que cantava muito bem chamado Aguenor! Zalira apaixonou-se pela voz do cantador! Um dia o escravo de José de Melo (Aguinaldo), viu o cantador a subir a corda e entrar no quarto de Zalira. Quando o seu senhor regressou este muito triste revelou que Zalira tinha um amante. José de Melo enraivecido pela traição, com a ajuda do seu escravo, atraiu o cantador para uma armadilha e prendeu-o dentro de um palheiro, cortando-lhe os dedos! Depois foi buscar a adúltera e prendeu-a junto do amante. Esta suplicou-lhe o seu perdão, mas José não quis ouvir e incendiou o palheiro, morrendo estes horrendamente! José pegou nas Jóias todas de Zalira e regressou a Portugal.

Quando regressou, já seu pai tinha falecido, tinha um casal que era seu amigo a cuidar da casa. Estes quando o viram, nem acreditavam! José entrou em seu quarto e foi buscar uma relíquia, a trança de Paula! Procurou o amigo Frei Diogo e este ficou felicíssimo por rever o amigo! Perguntando-lhe por Paula, este disse-lhe que tinha morrido, morrido para ele, pois estava casada. Quando o amigo lhe perguntou se ela era feliz, o padre contou-lhe a triste sorte da rapariga! O bêbado, tinha os dias contados…! Ao outro dia, José de Melo foi ao Mosteiro de S. Gens para ver a sua Paula, esta não o reconheceu, mas quando ele lhe falou, ela desmaiou. O marido dela, quando soube do sucedido, jurou que ia matá-lo. Numa ajuste de contas, José enraivecido por este maltratar a mulher que ele amava, estrangulou-o! 3 crimes, da autoria de José de Melo!

José de Melo vivia transtornado! Ouvia a voz de Zalira a gritar por ele, via o bêbado com língua de fora! Estava a morrer de arrependimento. Aliás, conta a lenda que a casa de Real, onde habitava o José tem espíritos, ninguém lá quer viver. Na época, muita gente dizia que quem lá passasse de noite viam uma figura de branco a falar numa língua que ninguém entendia, ninguém percebia o que ali se passava. Só José de Melo, sabia que era Zalira que andava a atormentá-lo. Ouvia-se também sons vindo um instrumento, e José sabia que era de Aguenor! A vida estava a tornar-se um tormento. José de Melo estava arrepender-se!

Contando os horrores que tinha feito, Frei Diogo ficou horrorizado com as atitudes do amigo e só lhe dizia: “Assassino, Assassino”.

Paula quis partir de S. Gens para uns familiares que viviam no Porto, José ao saber desta viagem foi ao seu encontro e pediu-lhe para que ficassem junto, os dois choraram pela infelicidade que a vida lhes dera! Paula sabia que foi José que assassinou o seu marido, mas tinha-lhe perdoado! O seu amor perdoava tudo! Foi o segundo beijo! Mas, não leitor não ficaram juntos, porque Frei Diogo soube que José foi ao encontro da amada e seguiu, impedindo esta união.

José de Melo mostrou-se perante ao amigo arrependido pelo que fizera, e disse que ia cumprir a sua promessa de construir a capela, Frei Diogo disse-lhe que não pois ele são veio mas salvo da alma não. Se ele queria ser perdoado por Deus, que fosse ter com o Bispo para que este lhe ordenasse o que deveria fazer para ser perdoado. A sua sentença foi de ser peregrino pelo mundo, sem nada, a pedir esmola e comida de porta em porta até ouvir dizer que Paula tinha morrido.

Paula regressou a S. Gens, pois não queria estar longe da sua casa!

E lá foi José de Melo, um homem que vivia bem, pedir esmola pelo mundo como lhe tinha ordenado o Bispo!

Passaram 30 anos, um dia José sonhou que Paula tinha morrido, e pensando ser um sinal regressou a S. Gens. Foi ao encontro de Frei Diogo, este tinha lhe perdoado os seus pecados e certamente Deus também! Paula ainda não tinha morrido, mas estava na altura certa de poder cumprir a sua promessa. Ninguém sabia que o velhinho era José de Melo de “Real”, só Frei Diogo e Paula o sabiam.

Com muita dificuldade José construiu a Capela, Paula ia visitá-lo também ela já muita velhinha e com poucas forças! O povo conhecia -o como: “José o Pecador”, nome dado por José. A Capela estava construída, então José disse a Frei Diogo que só faltava o nome. Frei Diogo disse que deveria chamar-se de “Nossa Senhora do Socorro”, uma vez que foi ela que o socorreu! E assim foi!

Paula veio ver a capela terminada e as forças acabaram, falecendo nos braços de uma mulher. José de Melo aproximou-se chorando convulsivamente e deu-lhe um beijo, o último beijo!

Na noite do 5º dia após a morte da amada de José de Melo, este deitou-se em cima do túmulo de Paula e faleceu. Na sua mão fechada, estava a trança de Paula!

 A pedido de Paula Gonçalves e José de Melo, estes foram sepultados dentro da Capela Nossa Senhora do Socorro.

O Voto foi Cumprido…